Candidatura do fado a Património da Humanidade

Após dez anos da morte de Amália Rodrigues, Manuel Carrilho, embaixador de Portugal na Unesco, anunciou que vai apresentar a candidatura do fado a Património Imaterial da Humanidade no início de 2010.

O embaixador classificou a candidatura, que está a ser preparada desde 2004, como um “bom dossier” e louvou o bom trabalho da Câmara Municipal de Lisboa, do Museu do Fado e do professor Rui Vieira.

Carrilho salientou ainda que a partir de agora terá que ser dado início “a muito trabalho de lobbying e sensibilização” para que a candidatura seja aprovada no prazo de um ano.

 

Devido à importância desta notícia para a cultura portuguesa decidimos entrar em conctato com o jornalista da RTP e guitarrista com ligação ao fado de Coimbra, Manuel Alegre Portugal, para que este nos desse a sua opinião sobre este assunto.

 

“Boa noite.
Questionado sobre a Candidatura do Fado a Património da Humanidade deixo, com gosto, o seguinte comentário (breve).

Como Jornalista mas sobretudo como músico e executante de Guitarra Portuguesa (escola de Coimbra) – e também como filho e aluno de um dos expoentes máximos da história da Guitarra Portuguesa (António Portugal) – não poderia deixar de me interessar sobre esta tão badalada candidatura do Fado a Património da Humanidade.
Ao primeiro olhar, peca por tardia. Mas talvez assim seja porque o próprio interesse de Portugal pelo seu próprio fado tem vindo a acontecer, senão sempre, quase sempre, tarde de mais.
Foi preciso a morte levar José Afonso para que o país começasse a descobrir a magia e a magnitude da sua música.
Adriano Correia de Oliveira, continua à espera que os portugueses tenham acesso à sua obra de uma forma mais ampla.
Amália Rodrigues, Carlos Paredes, entre outros, estão agora, finalmente, a conseguir uma atenção internacional que já tinham conquistado com o seu trabalho mas com muito pouca ajuda dos agentes nacionais.
Talvez o dinheiro acabe sempre por falar mais alto. E a verdade é que esta candidatura não mais representa que a descoberta de um filão de ouro que agora pode render fortunas ao actual mundo do espectáculo em Portugal.
Aplausos, de pé, para esta candidatura. Mas sem calar as criticas que têm de ser feitas, mais tarde ou mais cedo.
Onde vai ficar o Fado de Coimbra no meio deste processo? Trata-se de uma candidatura Nacional ou a penas do Fado de Lisboa. Estas questões ainda não conhecem resposta.
Falta também que os processo seja acompanhado de perto e impulsionado pelas mais altas figuras que representam a nação. Aguardo pacientemente. Estou no meu posto. Com a guitarra na mão.”

Por: Manuel Alegre Portugal